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As Bem-Aventuranças do Evangelho – V

Enviado em 12 de novembro de 2015 | Publicado por feditora

As Bem-Aventuranças do Evangelho

Mário Frigéri

“Através de todos os tempos conservarão o seu poder as palavras

que Cristo pronunciou no Monte das Bem-aventuranças.”

Ellen G. White1  

“O Sermão da Montanha é a mais notável contribuição do pensamento,

em todas as épocas da história, para a plenitude humana.”

Divaldo P. Franco2

VII – Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.

Jesus é denominado por Isaías de “Príncipe da Paz” (Isaías, 9:6), e esta é a razão por que todo homem integrado no bem deveria considerar como da mais alta honra transformar-se num autêntico pacificador, pois estaria recebendo essa bênção tão especial do Cristo pela semeadura da paz, que é a de que este mundo mais tem necessitado em todos os tempos. Diz mais Isaías, em 52:7, numa expressão feliz que exalta a sagrada missão dos pacificadores: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz […]”.

Todas as virtudes anteriores – humildade, conformação, mansidão, fome e sede de Justiça, misericórdia e coração puro – são apenas preparatórias e necessárias para que a alma se transforme em operadora da Paz. Os pacificadores são os desarmados de corpo e de alma, que já vivem a paz em seu íntimo e, projetando-a para fora, trabalham com ela no exterior, construindo um mundo mais harmonioso e feliz. Foi certamente olhando os milênios futuros, e antevendo os graves desentendimentos entre as nações, que Jesus estabeleceu essa bênção extraordinária.

Abigail, no Velho Testamento da Bíblia Sagrada, é o exemplo vivo do espírito pacificador apresentado pelo Cristo. Duplamente qualificada pelo escritor sagrado como “sensata e formosa”, essa mulher notável, agindo com intuição, sabedoria e rapidez, livrou sua casa e seus servos de um extermínio anunciado.

Davi estava refugiado nas montanhas daquela região, com mais de seiscentos guerreiros, para fugir à perseguição do rei Saul. Mandou, pois, uma embaixada a Nabal, marido de Abigail, com demonstrações de gentileza e homenagem, solicitando-lhe provisões para seu bando, pois seus homens nunca tinham molestado os servos de Nabal, quando pastoreavam no monte Carmelo, e muitas vezes os haviam protegido da ação de saqueadores.

Nabal, porém, sendo homem duro e maligno (seu nome, em hebraico, significa “sem juízo”), despediu os homens de mãos vazias e ainda praguejou gravemente contra Davi. Este, quando soube da recusa e ofensa, enfureceu-se, e ordenou a seus homens que cingissem a espada e se pusessem a caminho com ele, pois pretendia trucidar, até o amanhecer, todas as pessoas do sexo masculino da casa de Nabal.

Um dos servos desse homem perverso presenciou a injúria de seu patrão e o anunciou a Abigail, que, imediatamente, pressentindo a iminência do perigo que estavam correndo, preparou víveres em grande quantidade, colocou-os sobre jumentos e seguiu com os servos ao encontro de Davi, detendo-o quando já descia o morro, em desabalado tropel, a caminho de sua fazenda.

Apresentou-lhe as dádivas e, prostrando-se, rosto em terra, como humilde serva perante seu senhor, falou-lhe com tanta afabilidade e doçura, empregando palavras plenas de submissão e paz, que o coração dele se abrandou e sua ira se esvaneceu. Davi, então, louvando-lhe a prudência e o espírito pacificador, a despediu em paz e a abençoou em nome do Deus de Israel. (1Samuel, cap. 25.)

                                        As duas idades espirituais

Abigail é bem o símbolo da alma que já atingiu a sua maioridade espiritual. E um estudo mais atento do apóstolo Paulo permite-nos dividir os seres humanos, quanto à sua madureza espiritual, em duas classes: os menores de idade e os maiores de idade.

Os menores de idade são os que ainda não se interessam por conhecer a Lei divina e, por isso, evoluem de forma compulsória, aos trancos e barrancos, “por meio da dupla ação do freio e da espora”3, conforme a exigência das circunstâncias. Os maiores de idade são os que se interessam por conhecer a Lei e nela se integram, vivendo diariamente seus mandamentos, conforme a ordenação de Jesus no Sermão da Montanha: “Buscai primeiramente o reino de Deus e sua Justiça e todas as coisas vos serão acrescentadas”. (Mateus, 6:33 – citação contextual, não textual.) Estes se tornam gradativamente um com o Cristo, assim como o Cristo é um com o Pai.

Os primeiros se tornam agressivos, praticando a violência, contra si e contra o próximo, dentro desses quatros níveis: material, moral, mental e espiritual. Na condição de menores de idade, estão submetidos à ação automática da Lei e, por isso, enquanto se mantiverem nessa posição, não têm direito nem acesso à herança destinada aos filhos. Os segundos se tornam pacificadores, praticando a paz e a mansidão em todos os seus níveis. Na condição de maiores de idade, tornam-se dignos de receber e compartilhar o Amor e a Justiça contidos na Lei e, por isso, têm direito e acesso, desde logo, à herança reservada aos filhos.

É o que leciona o apóstolo Paulo, de forma cristalina, quando afirma:

“Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até ao tempo predeterminado pelo pai. Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo; vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!. De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus”. (Gálatas, 4:1/7.)

Essa transição da menoridade à maioridade está bem caracterizada na passagem da Lei de um Testamento para o outro, na Bíblia Sagrada. No Velho Testamento, o Deus da Justiça, com sua sucessão de negações imperativas, usa a palmatória no Decálogo, esculpido em pedra, para evitar que os infantes queimem as mãos no fogo da iniquidade. No Testamento Novo, o Deus do Amor, com sua sucessão de estímulos sugestivos, usa a bênção das Bem-Aventuranças, esculpidas nos corações, para ensinar os adultos a santificarem as mãos nas obras da caridade. Não é fortuito que o Velho Testamento termine com uma palavra – maldição – e o Novo, com uma bênção.

Porque serão chamados filhos de Deus. De acordo com a revelação evangélica, Jesus deu a todos quantos O receberam “o poder de serem feitos filhos de Deus”, a saber, aos que creem no seu nome. (João, 1:12.) Percebe-se, pois, no contexto acima, que somente os que atingem a maioridade espiritual e vivenciam as lições universais do Cristo podem ser considerados, tecnicamente falando, filhos de Deus.

Referências:

 1WHITE, Ellen G. O Maior Discurso de Cristo, Prefácio, p. V (PDF disponível na Internet – acesso em 05/03/15).

2Jesus e Vida. Palestra de Divaldo P. Franco gravada em DVD – LEAL.

3KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, 1ª ed. FEB, 2008, p. 196 (tradução de Evandro Noleto Bezerra).

Artigo publicado em Reformador, mensário da FEB, em outubro/15.

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