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Mulher, suave mistério

Enviado em 6 de março de 2015 | Publicado por feditora

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Por Mário Frigéri

 

Jesus deu o primeiro passo, há dois mil anos, para a verdadeira emancipação da mulher. Até ali, os grandes mestres da humanidade só admitiam homens para seus seguidores. Mas o divino Mestre, estabelecendo as diretrizes de um novo tempo, chamou carinhosamente mulheres e crianças para seu ministério divino. E reergueu, assim, a mulher, de seu estado de abjeta escravidão e submissão, às glórias inexcedíveis de seu Reino.

Madalena é o símbolo emblemático do renascimento espiritual de toda a espécie humana. De atormentada meretriz a núncia apostolar das boas novas da ressurreição, ela foi a lagarta que se transformou em borboleta, saindo do rés do chão em que vivia para librar suas asas de luz no azul do céu, naqueles dias de Cristianismo nascente.

Às vezes reflexiono que Maria, a doce mãe de Jesus, é que deveria ser a escolhida para anunciar a ressurreição. E me pergunto por que não o foi. Encontrei, mais tarde, a resposta nas próprias palavras do Cristo: “Eu não vim para os sãos, e sim para os doentes”. Maria, pela sua santidade, já se encontrava espiritualmente no Reino dos Céus, enquanto que a outra Maria, doente da alma, era a avezinha de asas partidas que necessitava ser recuperada e reconduzida ao celeste ninho.

Olho com profunda emoção a tela debuxada por Humberto de Campos, em seu livro “Boa Nova”, quando pincela o primeiro encontro de Madalena com Jesus.

Ela ouvira as pregações do Senhor, perto da Vila principesca onde vivia entregue aos prazeres do mundo, e, sentindo-se tocada no mais fundo da alma, chorou amargamente. Um dia resolveu procurá-lo para expor-lhe o coração magoado e, como ovelha tresmalhada, pedir admissão em seu divino rebanho. Mas haveria salvação para ela? Jesus a aceitaria?

E a resposta do Cristo me encanta: “Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas; porém, as flores são as esperanças em Deus”.

A imagem evocada por Jesus lhe honrava o espírito decaído, convidando-a para a renovação e o reerguimento. A partir daí, ela dedicou todos os seus dias à assistência aos desvalidos – principalmente os leprosos –, medicando-lhes as chagas enquanto lhes falava do Senhor Jesus, que, nessa época, já se encontrava no Reino celestial. Em breve, sua epiderme também apresentava aquelas manchas violáceas e tristes, que a levaram à morte.

Madalena é a metáfora viva da ressurreição, quando o ser humano decide transitar da treva à luz, com a diferença de que ela fez numa vida o que a maioria, não raro, leva inúmeras vidas para conseguir. E nestas condensadas linhas, singularizo nela todas as notáveis mulheres que iluminam a Bíblia, destacando, dentre todas, a Virgem Santíssima, escolhida por Jesus para representar sua mãe, perante o mundo, naquele magno Evento.

A história registra o exemplo de outras mulheres notáveis cujos nomes seria impraticável registrar aqui. Muitas, ao largo dos tempos, têm sacrificado a própria vida pelo estabelecimento de um lugar mais justo e igualitário para a mulher na oscilante sociedade humana. A maioria delas, com a brandura das rosas e a irresistência da água, continua avançando progressivamente para a meta. Com aquele olhar suave, aquele sorriso faceiro e aquele passo macio que só um gato com PhD felino consegue imitar, vão conquistando, com refinada estratégia, a mente e o coração do mundo para a sua (e nossa) causa. Mas assim como os grandes surtos revolucionários do mundo requisitaram seus Gandhis e seus Napoleões para equilibrar a marcha evolutiva, o movimento feminista também tem passado necessariamente, desde o século XIX, pelas suas fases de diálogo e de radicalismo.

Não obstante tantas marchas e contramarchas, a imagem real da mulher permanece intangível em todos os corações amantes da paz e sabedores da sacralidade do ser humano, como a definiu muito bem Victor Hugo, em seu imortal poema “O homem e a mulher”:

“O homem é um templo; a mulher, um santuário.

Perante o templo nos descobrimos; perante o santuário nos ajoelhamos.”

                

                                                      A primeira lágrima

 

Conta uma antiga lenda que no dia em que Deus estava elaborando o primeiro esboço de mãe, apareceu um anjo e perguntou:

– Por que tanta inquietude por causa dessa criação, Senhor?

E o Senhor respondeu:

– Você leu as especificações? Ela tem que ser totalmente lavável, mas não pode ser de plástico; deve funcionar à base de café e sobras de comida; ter um colo macio que sirva para acalentar as crianças; um beijo que tenha o dom de curar qualquer coisa, desde ferimento no joelho até namoro terminado; e três pares de olhos.

– Três pares de olhos, Senhor? E para quê?

– Um para ver através de portas fechadas, para quando alguém perguntar “o que é que as crianças estão fazendo lá dentro?”; um atrás da cabeça, para ver perigos imprevistos; e um par de olhos normais, para quando fitar alguém em apuros, lhe dizer sem palavras: “Eu te compreendo e te amo”.

O anjo rodeou o modelo e suspirou:

– É muito delicada.

– Mas é resistente, rebate o Senhor. Você não imagina o que esta mãe pode fazer ou suportar.

– E ela pensa?

– Não apenas pensa, mas discute e faz acordos, explica o Criador.

Finalmente o anjo se curvou e, pousando os dedos no rosto do modelo, disse:

– Há um vazamento.

– Não é um vazamento, disse Deus. É uma lágrima.

– E para que serve?

– Para exprimir alegria, tristeza, desapontamento, dor, solidão…

– O Senhor é um gênio, disse o anjo, e se afastou.

Mas o Senhor, ficando sozinho, sentiu-se melancólico e murmurou para si mesmo:

– Essa lágrima apareceu sozinha; não fui eu quem a colocou aí…

 

                                                  Mistério indevassável

Intrigado (não só eu, mas também as ciências psicológicas) com a complexidade do coração feminino – que as próprias mulheres não desvendam e a Divindade já desistiu de perscrutar –, fiz minhas pesquisas paralelas e, embora não tenha logrado êxito, posso dizer que passei casqueirando pela solução. E para amenizar um pouco o assunto, já de per si complicado, vou adaptar uma velha e inocente anedota para retratar esse caso curioso.

Certa vez, em sonho, entre as névoas diáfanas do Olimpo, eu conversei com Deus e pedi:

– Senhor, conte-me os segredos do Apocalipse, para eu completar o meu livro “Brasil de Amanhã”, publicado pela Mundo Maior Editora.

– Meu filho, o que você pede até Eu tenho dificuldade para entender. Faça outro pedido.

– Conte-me, então, o mistério do coração feminino.

Deus matutou, matutou, coçou a cabeça, e saiu-se com esta:

– Em que parte do Apocalipse você está mesmo interessado?

 

 

               Dia Internacional da Mulher – Homenagem – 2015           

                       Oferecimento fraterno de mariofrigeri@uol.com.br

 

 

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