I – Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça.
II – Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou. Eu desci do Céu para fazer a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que o Pai me deu.
III – Assim como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Porque os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem.
IV – Tenho vos dito estas coisas para que o meu júbilo esteja em vós e o vosso júbilo seja completo.
V – E como és Tu, ó Pai, em mim e eu em Ti, também eles sejam um em nós, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade.
VI – Não Te rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim por intermédio da sua palavra.
VII – Minhas ovelhas virão do Norte e do Sul, do Oriente e do Ocidente, e se sentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no Reino dos Céus. Então haverá um só rebanho e um só Pastor.
Interpretação do discurso
Deste duro discurso proferido por Jesus, cheio de alertamentos aos que serão vencedores com Ele (e não aos que serão perdedores sem Ele), podemos tirar as seguintes conclusões:
1 – Ninguém deve ser considerado líder religioso ou discípulo do Cristo apenas porque assim se proclama ou assim é proclamado pelas convenções terrenas. A condição de líder ou discípulo será comprovada pelas obras de cada um no campo da solidariedade humana.
2 – Todos os homens são da Terra e só Jesus é do Céu, ou seja, todos na Terra são iguais e um só se destaca e é o Mestre Universal – o Cristo. Logo, a ordem divina é para que todos os discípulos do bem se unam no mundo, em nível de igualdade, e levem a palavra da Boa Nova a toda a Humanidade.
3 – Permanecer na aura amorosa do Cristo deve ser o propósito de todo líder ou discípulo, e essa permanência gera em consequência o amor fraterno por todos os seus irmãos em Humanidade – afetos e desafetos.
4 – A mensagem de Jesus não é uma sentença de morte sombria e fatal, mas uma bandeira de júbilo e euforia – e essa alegria gerada por ela deve ser a tônica das ações de todos os que se declaram seus discípulos.
5 – Pelo fato de Jesus ser um com o Pai, o líder e o discípulo devem procurar ser um com Jesus, a fim de que essa corrente divina se estabeleça, ligando a Terra ao Céu.
6 – Os líderes e discípulos unidos devem vivenciar e promover a vivência e a propagação da mensagem cristã, para despertar aqueles que ainda não tomaram conhecimento dela, visto que só Deus sabe quem são as ovelhas que, em todo o mundo, participarão do rebanho único de Seu Filho.
7 – As ovelhas do Cristo virão de todas as nações e de todas as religiões, e também dos agrupamentos sem matiz religioso, cabendo apenas a Deus, através da ação missionária dos homens, tocar o coração daquelas que se integrarão no rebanho único.
Este é o cerne do Ecumenismo estabelecido pelo Cristo.
– Duro é esse discurso; quem o poderá ouvir? dirão os que são contra a idéia ecumênica. E não a entenderão. Mas não a entenderão porque foram batizados somente com água e não com fogo, e provavelmente lhe farão oposição ou ficarão indiferentes a ela. Mas os que forem batizados com o fogo do Espírito Santo entenderão. É para estes que o Cristo destinou o Seu Reino futuro: Nada temais, ó pequenino rebanho, pois aprouve ao Senhor Deus vos dar o seu Reino. (Lucas, 12:32.)
Conclusão e sugestão
Nossa sugestão aos líderes religiosos da atualidade (e que será provavelmente considerada um tanto excêntrica por alguns) é, portanto, a seguinte:
– Sentem-se a uma mesa comunitária, de forma confortável e descontraída, tomem um belo copo de chope com colarinho, acompanhado de deliciosos petiscos, falem sobre assuntos triviais e riam bastante, mesmo que espirrem saliva na veste sacerdotal de seus interlocutores. Em seguida, como um bando de crianças em revoada, saiam pelas ruas e batam de porta em porta, fazendo a “campanha do quilo”, isto é, pedindo um quilo de qualquer gênero alimentício aos moradores da cidade. Depois, sob um sol a pino, carregando todas essas sacolas de mantimento nos ombros, entrem na primeira favela que encontrarem e distribuam essas dádivas aos irmãos necessitados, com um sorriso no rosto e um abraço fraterno. É o que faria Francisco de Assis no lugar de cada um.
Tradução: Desçam da torre de marfim (das indagações intelectuais infindáveis) para o corpo a corpo do trabalho de campo, na ação social da solidariedade humana, para sentirem a alma do Cristo, que não tem tempo para veranear pelos templos suntuosos, uma vez que Sua presença é reclamada a todo momento ao pé do sofrimento humano.
Se tudo isto for feito com o sentimento de caridade cristã e o amor exemplificado pelo Cristo, então os líderes religiosos estarão prontos para sentarem-se à mesa de conferência e iniciarem as tratativas para a harmonização ecumênica de seus vários rebanhos.
Porque se o movimento ecumênico começar pela base da pirâmide cristã, que é a caridade vivenciada em sua singeleza mais absoluta, o movimento terá sucesso. Mas se começar pela tentativa de desbastar suas diferenças doutrinárias, estará fadado ao fracasso, porque terá começado a construção desse tabernáculo sagrado pela cumeeira e não pelo alicerce, e nenhuma construção se sustenta se iniciada no vácuo.
Desarmem-se, portanto. Tornem-se camaradas. Amalgamem-se. Dispam os finos paramentos teológicos de seus antepassados, que tanto maçarocaram a singeleza da mensagem cristã, e vistam o hábito grosseiro e surrado de Francisco de Assis. Sentem-se à mesa da harmonização universal e estendam para o céu as mãos espalmadas, suplicando a Deus a esmola da misericórdia divina. Se disso não resultar o Ecumenismo preconizado pelo Divino Pastor em Seu Evangelho, este autor, envergonhado de pertencer a uma espécie tão orgulhosa, hipócrita e mesquinha, rogará a Deus que risque seu nome, para sempre, do Livro da Vida.
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