Por Severino Celestino da Silva
A festa da Páscoa teve origem com o povo hebreu e sua libertação da escravidão dos egípcios.
A palavra Páscoa vem do hebraico Pêssach, que significa “passar por sobre”. Significa que na décima praga narrada no Êxodo, o Espírito de Deus passou por sobre o Egito matando os primogênitos e isto culminou com a libertação do povo hebreu.
O sangue de um cordeiro foi extraído e passado nos umbrais das portas dos hebreus para que quando viesse, o espírito de Deus reconhecesse onde havia família dos hebreus e poupasse o primogênito daquela casa.
A Páscoa representa um símbolo de libertação, não só para os hebreus, mas também para todos nós.
No capítulo 12 do livro do Êxodo estão as recomendações de Deus dizendo para Moisés como deveria ser comemorada a Páscoa: tomava-se um cordeiro, macho, com menos de um ano que não poderia ter nenhum osso quebrado, e tinha que ser imaculado ou puro.
Com relação a nós cristãos, é necessário fazermos a diferença do significado e conceito desta festa. Primeiramente necessitamos lembrar que Jesus nunca comemorou uma Páscoa Cristã. Jesus era judeu, viveu entre os judeus e morreu judeu. Assim, a sua última comemoração no Cenáculo, conhecida como Santa Ceia, onde lavou os pés dos discípulos, foi a comemoração de uma Páscoa judaica.
No Evangelho de João, capítulo 13, está escrito que os discípulos perguntaram a Jesus onde iriam comemorar a Páscoa. Temos assim, os discípulos de Jesus, judeus, falando para Jesus, judeu. E Jesus começa a dar as diretrizes, que eles deveriam procurar uma casa, o cenáculo, onde ele realizou sua última Páscoa, vivo entre nós. E depois veio toda a transformação e mudanças de significados e conceitos desta festa que foram introduzidos por Jesus.
Na festa judaica temos o cordeiro que simboliza, hoje, o sangue de Jesus, a libertação. E porque já existia o prenúncio de que o melhor que você tivesse da sua colheita, tinha que ser oferecido a Deus. O cordeiro macho, de um ano, em pleno vigor era o que os hebreus tinham de melhor no seu rebanho. Deveriam comer ervas amargas, para simbolizar a amargura do cativeiro, não deveria se comer pão com fermento, mas o pão ázimo, o pão sem fermento utilizado na Páscoa. O pão sem fermento dispensava a espera da fermentação e atendia a urgência da partida e eles teriam que estar prontos para a viagem na hora em que Deus passasse. A refeição tinha que ser realizada em pé, cingido na cintura e com o cajado na mão. Não poderia jogar fora o que sobrasse. Se a família fosse pequena, deveria reunir outros para que todos participassem. É um ritual puramente judaico.
Qual a diferença entre Páscoa Judaica e Páscoa Cristã?
Na Páscoa judaica celebrada por Jesus, ele introduz as modificações que são relembradas hoje no mundo cristão.
Estas modificações podem ser resumidas nos seguintes itens:
1- O “Lava Pés” onde Jesus demonstra um grande gesto de humildade e amor para com os discípulos e ensina a eles que o que acabara de fazer era para que eles fizessem uns aos outros. Esta foi a primeira grande mudança introduzida por Jesus na festa da Páscoa. Humildade, servidão, doação e amor. Ele termina aquele grande gesto, afirmando: aquele que quiser ser o maior, seja um servidor de todos. Com este gesto Jesus introduziu a primeira mudança no ritual pascoal do judaísmo.
2-Ele também ensina que não existe diferença entre o senhor e o servo, perante Deus. Todos são iguais. Outra lição de justiça e igualdade diante de Deus.
3- A terceira inovação é a benção do vinho, fruto da videira, que é um princípio existente no ritual judaico, só que Jesus fala que aquele vinho que eles iriam tomar, simbolizava o sangue que ele iria derramar.
O exemplo de Cristo ganhou maior significação, porque o ritual da Páscoa já existia no judaísmo. Agora depois de Jesus, com o seu maior exemplo de amor, como o filho de Deus, a festa ganha um novo significado. Jesus conseguiu inovar e acrescentar novos valores à Pascoa judaica.
O que dizemos nem sempre tem importância, no entanto, o que fazemos tem sempre um significado maior. Por isso, se diz que as palavras passam, mas os exemplos arrastam. O que você diz a seu filho quando o orienta nem sempre é acatado por ele. Mas seu filho o observa e acompanha seu comportamento. Jesus coloca também que o filho do Homem foi identificado e reconhecido por suas obras.
No entendimento e ensinamentos da Doutrina Espírita a Páscoa tem um conceito diferente daqueles que entendem algumas religiões cristãs.
O espiritismo enaltece e concorda com os exemplos deixados por Jesus, humildade, servidão, doação e amor e ainda considera que o importante na Páscoa não é a morte de Jesus, que é tão evidenciada.
Entendemos que a grande mensagem deixada por Jesus para nós, na Páscoa, é sua ressurreição, é ele voltando dentre aqueles que pareciam estar mortos, para nos dizer que a morte não existe. Acrescentando ainda que além da morte do corpo físico existe um horizonte muito maior do que podemos imaginar a nos esperar em espírito e nós quase sempre, esquecemos disto.
Lembramos ainda que é desnecessário o apelo comercial que existe neste período com a tradição da venda dos ovos de Páscoa.
Estamos numa época de reflexão e oração voltadas para a Paz do mundo. Necessitamos repetir os gestos de humildade e servidão de Jesus fazendo a nossa parte em benefício do nosso semelhante. Páscoa é passagem, mas não permitamos que Jesus simplesmente “passe”, mas que permaneça vivo em nossos corações.
FELIZ PÁSCOA.