Suave Natal
Por Mário Frigéri
Noite Feliz é considerada a mais bela canção de Natal de todos os tempos. Sua letra evocativa, emoldurada na mais suave melodia, evolou-se de uma pequenina igreja nos Alpes austríacos, em 1818, para descer amorosamente, como bênção de paz e manto de alegria, sobre o coração da comunidade cristã do mundo inteiro. Sua origem está tocada dos mais belos sentimentos.
Conta-se que na noite de 24 de dezembro de 1818, o padre Joseph Franz Mohr estava sozinho em seu escritório, lendo a Bíblia e concentrado em preparar o sermão da missa da meia-noite. Nesse momento, foi interrompido em sua leitura pelo som de batidas na porta. Levantou-se para abri-la e deparou-se com uma jovem camponesa, em seus humildes trajes, que o saudou e em seguida pediu-lhe que fosse abençoar o nascimento de uma criança, filha de um lenhador da aldeia.
Cumprindo seu dever cristão, agasalhou-se para enfrentar a noite fria e acompanhou a jovem. Atravessaram uma floresta de pinheiros cobertos de neve e finalmente chegaram a uma humilde choupana. No leito bastante rústico, a mãe segurava nos braços a criança recém-nascida, que dormia suavemente. A doçura da cena encheu de amor o coração de padre Joseph, que abençoou a ambos com lágrimas nos olhos.
No caminho de volta, recordava a cena que tanto lhe tocara o coração, reconhecendo nela uma extrema semelhança com o nascimento de Jesus, na manjedoura. Sentiu-se abençoado, como se lhe fora dado assistir ao nascimento do próprio filho de Deus.
Realizada a missa do galo naquela noite, voltou para casa, mas não conseguiu conciliar o sono, vivamente impressionado pela cena que presenciara na casa singela daquele lenhador. Tentou expressar o que sentia em palavras. Sentou-se à escrivaninha e a escrita foi tomando naturalmente a feição de versos. Ao amanhecer, viu que havia escrito um poema. E assim nasceu Noite Feliz, que começa com este verso: “Noite silenciosa! Noite santa!”. A música foi criada por seu colega Franz Xavier Gruber, músico e organista, também austríaco. Sua versão mais conhecida em português é esta:
Noite feliz! Noite feliz!
O Senhor, Deus de amor,
Pobrezinho nasceu em Belém,
Eis na lapa Jesus, nosso bem.
Dorme em paz, oh! Jesus!
Dorme em paz, oh! Jesus!
Noite feliz! Noite feliz!
Oh! Jesus, Deus da luz,
Quão afável é teu coração,
Que quiseste nascer nosso irmão,
E a nós todos salvar!
E a nós todos salvar!
Noite feliz! Noite feliz!
Eis que no ar vêm cantar
Aos pastores os anjos dos céus
Anunciando a chegada de Deus,
De Jesus Salvador!
De Jesus Salvador!
Foi também numa sublime noite de Natal que desceu à Terra uma das mais belas preces espíritas de todos os tempos: a Prece de Cáritas.
É possível imaginar a cena, recriando aquele instante divino. Estamos em
Bordeaux, na França de 1873, e o Consolador continua disseminando por toda parte sua benfazeja luz.
Em ampla sala de nobre residência, a família Krell e amigos se reúnem para as orações noturnas. É um grupo harmonioso, que traz a mente e o coração voltados para os ideais superiores da fé ativa, a expressar-se em amor pelos semelhantes. São pessoas que procuram exercitar a renúncia em todos os seus atos, cultivando a bondade constante por intermédio do esforço próprio na realização do bem.
Inicia-se a reunião. Velam-se as luzes, os contornos se esbatem e remansoso silêncio desce sobre o ambiente envolto em vibrações de paz. Nesse momento sagrado de íntimo intercâmbio com as forças do Alto, o luminoso Espírito Cáritas desce de elevadas esferas e se aproxima gentilmente de Madame W. Krell, médium já em sintonia profunda, nesse momento, com as forças espirituais.
Pousa-lhe com ternura as mãos sobre a fronte, que se aureola em eflúvios de fulgurante luz, a se movimentarem como se fossem diminutas antenas de ouro fumegante. Abundantes jorros de luminosidade estelar descem do alto e se transformam em radiantes pétalas microscópicas, gravitando, delicadas e caprichosas, em torno da cabeça da médium.
O pensamento divino, decodificado agora pelos mecanismos sublimes do cérebro humano, condensa-se em impulsos elétricos que vão descendo pelo braço da médium, à semelhança de um riachinho de águas mornas, movimentando-lhe a mão, a qual desliza com delicadeza sobre o papel. E as palavras vão surgindo uma a uma e revelando, em seu encadeamento singelo e natural, a mensagem que as Vozes do Céu, em nome do
Eterno Pai, destinaram aos corações de boa vontade naquela suave noite de Natal:
Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade, dai a força
àqueles que passam pela provação, dai a luz àquele que procura
a verdade, ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.
Deus! Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação, ao
doente o repouso.
Pai! Dai ao culpado o arrependimento, ao Espírito a
verdade, à criança o guia, ao órfão o pai.
Senhor! Que vossa bondade se estenda sobre tudo que
criastes.
Piedade, Senhor, para aqueles que não vos conhecem,
esperança para aqueles que sofrem.
Que a vossa bondade permita aos Espíritos consoladores
espalharem por toda parte a paz, a esperança e a fé.
Deus! um raio, uma faísca de vosso amor pode abrasar a
Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e
infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se
acalmarão.
Um só coração, um só pensamento subirá até vós, como um
grito de reconhecimento e de amor.
Como Moisés sobre a montanha, nós vos esperamos com os
braços abertos, oh! Bondade, oh! Beleza, oh! Perfeição, e
queremos de alguma sorte merecer a vossa misericórdia.
Deus! Dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará das nossas almas o espelho onde se refletirá a Vossa Imagem.
Aos prezados leitores deste Blog formulamos votos de feliz Natal e um Ano novo repleno de Paz, com Jesus.
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Fontes de consulta:
1) LACERDA, Patrícia. Artigo “Noite Feliz”. In A Essência do Natal. São Paulo: Editora Martin
Claret, 1998, p. 136/8.
2) LUIZ, André/Francisco Cândido Xavier. Nos Domínios da Mediunidade. 8ª ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1976. Cap. “O Psicoscópio”, p. 26/7.
3) KARDEC, Allan. A Prece. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 5, Prece de Cáritas, p. 169/170.
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Mário Frigéri é poeta e escritor, autor do livro “Brasil de Amanhã” (O futuro do Brasil à luz das Profecias), publicado recentemente pela Mundo Maior Editora. Contato com o autor: mariofrigeri@uol.com.br
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